La traduction en portugais de Comment les CDS auront tué l’euro. Merci à João Calapez Marques.
The English version of this post can be found here.
Este texto é um «artigo presslib’» (*)
E os especuladores das CDS (Credit-default Swaps) que não pagam impostos, por que é que nunca se fala deles? Fala-se muito dos Gregos que não pagam impostos e, neste momento, devido à falta de jeito de alguns, fala-se também dos funcionários internacionais, em particular os do Fundo Monetário Internacional, que não pagam impostos, mas sobre os especuladores das CDS que não pagam impostos, vá-se lá saber porquê? Caluda!
É preciso dizer que não é assim tão simples saber quem são exatamente eles, uma vez que fazem parte do shadow banking, o setor financeiro sombra. O que é isso? São as finanças não reguladas, por que é que não são reguladas? Porque são as que pagam os salários dos lobistas que, por sua vez, redigem os textos das leis que regulamentam as finanças (e não só) que os deputados recebem chave na mão e só precisam de assinar.
Estando na sombra, não se sabe verdadeiramente quem são. Eles nunca explicam quem são? Sim, de uma certa forma: quando um especulador fala em seu nome, emprega sempre a mesma expressão: « um bom pai de família ». Quando um especulador explica o que faz, começa a frase por « Um bom pai de família faz isto ou aquilo…». No seguimento desta nota, nomearei portanto os especuladores como « bons pais de família» e saberemos de quem estou a falar.
No momento em que se preparava a queda da Grécia, falava-se muito da responsabilidade dos CDS no que se estava a passar. Agora, a propósito da Espanha, caluda aqui também! Não se fala mais das CDS, porquê? Não sei, ou então sim, como diz a canção: « Não nos esquecemos de nada, vamos é nos habituando, e pronto».
Como as CDS terão matado o Euro? Vou explicar. Lembro primeiro que uma CDS funciona como um seguro sobre uma dívida. Você emprestou 100 € ao Óscar. Como não tem a certeza que ele o devolverá, você dirige-se ao Eusébio, que segurará a operação. Vai pagar 5€ todos os meses ao Eusébio, e em retorno por este prémio, o Eusébio pagará o dinheiro que faltar à chegada. O Óscar só devolve 75€? O Eusébio dar-vos-á os 25€ que faltam. O Óscar pôs-se a milhas? O Eusébio pagará, timtim por timtim, os 100€ que faltam.
Isto, é para o que se chama uma posição «de cobertura» sobre CDS. Agora, as posições «nuas». Atenção, é muito mais complicado, porque agora há cinco pessoas: há o Júlio e o Gastão a mais. O Júlio emprestou 100 € ao Gastão. Vou ter com o Eusébio e peço-lhe para se assegurar contra a possibilidade de o Gastão não reembolsar o Júlio. Porque faria isso? Porque sou um bom pai de família, por Deus! (Há aqueles, juro-vos, que fazem as perguntas mais disparatadas!).
Vou-vos explicar porque é que se tomou o hábito de chamar uma posição « nua » sobre CDS : «fazer um seguro sobre o carro do vizinho », acho que compreenderam.
As posições «nuas» sobre CDS serão interditas na Europa a partir do mês de novembro. Porque é que se esperou tanto tempo, quando essas posições «nuas » sobre CDS já faziam cair a Grécia em janeiro de 2010? Aí também, juro-vos, há aqueles que fazem as perguntas mais disparatadas! Porque ainda restava a Espanha, a Itália, a França…, para mandar para a sucata, e revender às peças, a um preço interessante, aos pais de família (previdentes) que tivessem amealhado umas economias.
Como é que os bons pais de família fazem cair países? Aí também, serei rápido: eles fazem seguros sobre o país do vizinho. Como são (pelo menos) quatro vezes mais numerosos que os verdadeiros países que asseguram (e que têm verdadeiramente algo a perder), eles inflam a procura e fazem subir os preços.
Durante esse tempo os economistas que observam o fenómeno dizem : «Caramba, vejam como o risco de o Gastão não reembolsar o Júlio aumenta! Dá cá um medo! »
Então os economistas não compreendem que são os bons pais de família que fazem subir os preços? Não, nos seus livros de economistas, a especulação não existe: não se explica. Sim, há uma nota em rodapé que diz: «Os bons pais de família trazem liquidez aos mercados». Ponto final.
O preço do prémio das CDS aumenta, porque a procura aumenta. Os economistas calculam o risco dos países não reembolsarem a sua dívida fazendo o cálculo na outra direção: a partir do montante do prémio das CDS.
Resultado, no dia em que Gastão se volta a apresentar, o mercado de capitais pede-lhe para lhe emprestar, uma taxa de juro na qual se enfiou (chamam lhe o spread nos jornais) o prémio de risco do mercado das CDS (verdadeiros segurados E bons pais de família), e pimba, pede se ao Gastão que contraia um empréstimo a dez anos, uma taxa de juro de 28,9% (como a Grécia neste momento segundo a Bloomberg), e acabou-se para o Gastão: a Troica já lhe bate à porta para lhe explicar como se torna um servo, e que no fim das contas, não é assim tão grave.
Esperem, esperem, ainda não acabou: o mais engraçado ainda está para vir! A uma seguradora, pedimos para fazer reservas, não? Assim, se houver algum imprevisto, podemos recorrer às suas reservas. Na maior parte dos casos, isso chegará, e se não chegar, bom, o problema só se colocará para a diferença entre a soma a pagar e as reservas, que no pelo menos funcionarão como um amortecedor. Mas no caso das CDS (e aí, vejo os que se partem a rir, porque já sabem o que vou dizer), as CDS, são o shadow banking, o setor sombra, não é? E para que serviria ser o setor sombra, se nesse setor à sombra fosse obrigatório fazer reservas como no (cretino) setor à luz do dia?
Portanto, nada de reservas para amortecer o choque em caso de sarilhos, e como já disse, os pais de família que asseguraram o país do vizinho, são (pelo menos) quatro vezes mais do que aqueles que realmente correram o risco…
E eis porque a vaca tussiu, e as CDS terão matado o euro (enfim, antes ele, visto que, da maneira como a coisa vai…).
(*) Um «artigo presslib’» é de livre reprodução no todo ou em parte na condição de que este parágrafo seja inscrito após a mesma. Paul Jorion é um «jornalista presslib’ » que vive exclusivamente de direitos de autor e das vossas contribuições. Poderá continuar a escrever como faz hoje enquanto o ajudarmos a faze-lo. O vosso apoio pode manifestar-se aqui
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